Remuneração Variável?!
O músico que toca na igreja deve ser remunerado? Este salário deve ser fixo? É justo pagar o cantor / instrumentista evangélico por sua apresentação? Perguntas como estas permeiam o cenário evangélico já há algumas décadas. Divergências surgem entre as opiniões de artistas e líderes de igrejas, o que gera conflitos posteriores, como a saída do integrante do ministério de louvor para tocar ou cantar em bares e casas noturnas, ou até mesmo a frustração do músico em relação aos seus talentos e o espaço conquistado por ele dentro de sua comunidade.
Em entrevista exclusiva ao Guia-me, Robson Nascimento e João Alexandre falam sobre o tema que há décadas vem causando divergências.
O Guia-me entrevistou músicos atuantes em diferentes denominações e estilos musicais do meio evangélico. Em entrevista exclusiva, os cantores Robson Nascimento (Black Music) e João Alexandre (MPB) falaram sobre as dificuldades enfrentadas por músicos não reconhecidos dentro da igreja e, em contrapartida, por líderes ministeriais que lidam com cantores e instrumentistas desanimados, que não se preparam técnica ou espiritualmente. Além disso, a remuneração do profissional por parte da igreja foi justificada por ambos os entrevistados, como possibilidade da comunidade abençoar os seus levitas.
Escolhidos
“O trabalhador é digno do seu salário”. Citando a passagem bíblica do evangelho de Lucas 10:7, Robson Nascimento colocou a sua justificativa para a remuneração daqueles que se dedicam integralmente à obra de Deus. Ainda lembrando outros textos do livro sagrado, o cantor – que também é pastor, líder da Igreja Deus é Bom, na capital paulista – lembrou que já no Velho Testamento, aqueles que se colocavam totalmente à disposição da igreja eram pagos, com parte do dízimo recolhido. “A gente percebe que lá na Palavra de Deus, Ele escolhe os sacerdotes e os levitas, ou seja, as pessoas que vão trabalhar no templo, vão trabalhar para o reino, vão representar Deus para o povo e o povo para Deus, a gente percebe que Deus separa uma terra para eles e dá ordens, que uma parte dos dízimos seja recolhida – está lá em Deuteronômio, Números e Levítico – e entregue aos sacerdotes, porque estes não trabalham fora. Eles não são camponeses, agricultores, são levitas e sacerdotes que cuidam somente do templo e quem cuida deles é Deus. Deus abençoa o povo e o povo separa uma parte para que isso chegue aos levitas e sacerdotes”, afirmou.
Segundo o Pr. Robson, a remuneração da atividade realizada pelo músico, pastor ou qualquer outro que se dedique à obra dentro da igreja surge como uma forma de reconhecimento desta consagração e incentivo para que ele continue se colocando integralmente disponível para o ministério. “Eu creio que o nosso ministério precisa ser remunerado, sim. Precisa ser considerado como algo que exige tempo, porque eu, por exemplo, gasto madrugadas preparando palavras, visitando pessoas, estou disponível para as pessoas. Eu estou em tempo integral em prol das pessoas, da igreja. Eu acredito que o ministério sendo sério e bíblico entende que o pastor, os músicos, as pessoas que estão integralmente na obra, precisam ser remunerados. Não é esmola, não é colaboração, é remuneração, é salário”, retificou.
Lembrando um dos problemas presentes em muitas igrejas, Robson falou sobre a necessidade de rever a organização financeira dentro das comunidades e os conceitos formados em torno desta área. “As igrejas precisam deixar o preconceito. O problema da igreja não é o preconceito de ser profissão ou ministério, é o preconceito do dinheiro. Muitas vezes, o pastor vai lá e fala: ‘Vocês têm que se consagrar’, mas não pega a parte que é do ministério para poder pagar os músicos e bancar os diáconos. O grande problema da igreja é a distribuição de renda. Por isso que não sobra para os músicos, diáconos e muitas vezes não sobra para os pastores e co-pastores”, alertou.
Guiados pelo amor
“O princípio que deve reger esse tipo de questão é o amor, sempre!”. Enfatizando tal necessidade, o cantor João Alexandre lembrou que, antes de tudo, é necessário que haja um sentimento de vontade de trabalhar no ministério e que nem todas as atividades realizadas pelo músico em projetos da igreja serão remuneradas. “Ministrar significa servir, mas nem todo serviço é recompensado de forma material ou financeira, pois, de fato, somos abençoados na mesma proporção em que abençoamos as pessoas, na mesma proporção em que Deus aprecia e até recompensa nosso desprendimento material”, afirmou e ainda lembrou que, paralelamente ao desapego que o levita precisa ter para discernir o momento em que deve ser pago, a comunidade precisa reconhecer tal atitude do músico e contribuir para o seu sustento. Há igrejas que têm extrema dificuldade de entender a profissão do músico a ponto de sustentá-lo financeira ou até espiritualmente, assim como há músicos que têm extrema dificuldade de entender o que é ministério (serviço), deixando de atuarem voluntariamente em seus trabalhos e projetos evangelísticos quando podem”, afirmou.
Concordando com a opinião colocada por Robson Nascimento, João lembra que a remuneração de um músico se faz justa assim como aquela recebida por qualquer outro profissional que dedique o seu tempo à igreja. “Não deveria ser necessário perguntar ao músico se ele quer receber ou não. Ele deveria, como qualquer outro profissional com quem a igreja faça algum trabalho, simplesmente ser pago. Se, de acordo com as Escrituras, Deus ama a quem dá com alegria, penso que cabe a qualquer profissional, e só a ele e não à Igreja, a decisão de ‘dar’ parte ou o total do que receber para a obra de Deus. O grande contrabaixista Abraham Laboriel, cristão que já gravou com mais de 1000 artistas diferentes, disse, com muita propriedade: ‘Precisamos permitir aos músicos a alegria de dar sem sentirem que são desvalorizados pelo povo de Deus e que seus dons lhes são extorquidos ao invés de concedidos livremente”‘, ressaltou.
Dedicação
O esforço por parte dos integrantes do grupo de louvor – entre outros ministérios – foi colocado por Robson Nascimento como primordial para que o músico receba um salário justo da igreja. Preparação técnica e espiritual foram lembradas durante seu depoimento como atitudes que estão em falta na conduta de parte dos músicos. “Infelizmente, existem músicos e ‘músicos’. Existe aquele músico que estuda, se consagra e existe músico que é empírico, que vê alguma coisa lá fora, vem aqui na igreja e faz qualquer coisa. Obviamente, Deus vai saber o que está no coração do músico e, conforme o coração do músico, Deus vai permitir a ele estar em um lugar onde ele vai ser remunerado integralmente. Eu estava no Paraná esses dias e conheci uma banda que era inteiramente remunerada pelo ministério. Os caras estão bem. Cada um tem o seu carro, suas roupas, mantém a sua família. Não é R$25 mil por mês, mas é o suficiente para poder falar: ‘Deus é comigo”, exemplificou.
Egito
O reconhecimento do músico que se consagra e a valorização de sua atividade como profissão são fatores que, na opinião de Robson Nascimento podem livrar o músico de ambientes inadequados. Lembrando da nova fase de seu trabalho – na qual gravou um DVD baseado na passagem bíblica de Jeremias 42 – o cantor relatou que tem sido usado para orientar os integrantes de seu ministério. “A palavra de Deus me ensina que não saem duas águas de uma fonte só. É uma questão de visão. Jesus falou comigo nesses dias para que eu pudesse falar para os músicos o seguinte: Em Jeremias 42, Deus dá a ordem para os seus, falando: ‘Não vá para o Egito’. Se você sair dessa terra, que é a casa dEle, debaixo das asas dEle, onde Ele nos estabeleceu e for para o Egito, lá você vai morrer de fome, a guerra vai pegar você, a peste vai pegar você, ou seja, toda sorte de maldições vai pegar você”, ressaltou.
Ao ver situações como esta, Robson lembra de sua carreira fora da igreja e como isso o afetava. Sua participação em grupos não-evangélicos e seus trabalhos em bares e casas noturnas – que acabavam não tendo nenhum objetivo evangelístico – foram fatores que o fizeram repensar seus conceitos. “Quando Deus falou isso para mim [Jeremias 42], automaticamente me lembrei do convite que Ele me fez quando eu estava lá fora. Eu falo isso por conhecimento de causa. Eu sei que dá choque. Se você vem aqui em um domingo de manhã, recebe as bênçãos de Deus, é usado por Deus aqui, mas domingo à noite você não vem porque precisa tocar em uma bar e lá você vai cantar coisas que incentivam a prostituição, bebida, às vezes tem um casal de homossexual ali – sem preconceitos, mas sabemos que isso é condenado pela bíblia – e eles estão dançando ao som da tua voz. Muitos estão ali traindo os seus cônjuges, encontraram-se em um barzinho escurinho e você embalando esse tipo de coisa”, alertou.
Por João Neto
Fonte: Guia-me
Via: www.guiame.com.br
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